quarta-feira, 11 de julho de 2007

Mas que belo marido!

Cinco dias enfurnados num hotel, os hóspedes acabam se tornando conhecidos. Pelo menos, de vista. Um prato cheio para o café da manhã que, em nosso caso, se tornou divertidíssimo graças a um grupo de amigas que parecem ter absorvido, por completo, o espírito de Nelson Rodrigues.

Não precisa querer. Você ouvia o que elas conversavam sem o menor esforço. Mais um pouco, era palestra. Temas: os mais diversos e divertidos. De pratos preferidos, moda, festa literária à vida alheia. E aí nós rimos e não foi pouco.

Em um destes encontros matinais, com aquele vazio no estômago, uma delas saiu com a seguinte pergunta: “Vocês viram o marido dela?”. Seguiram-se os comentários das outras três amigas:

Amiga 1: “Aquele marido?”
Amiga 2: “Mas que belo marido!”
Amiga 3: “Maravilhoso!”

Quer café da manhã mais Nelson Rodrigues que este? Impossível!

Gostinho de quero mais

Eu sei, a Flip terminou, mas ainda guardamos algumas coisinhas para este gostinho bom não ir embora tão rápido. Uma dessas ‘pílulas’ nós soltamos agora. Vamos falar de uma das mesas mais concorridas desta Festa: a 14.

A mesa Narrativas de Conflito reuniu dois dos maiores nomes do jornalismo mundial: o norte-americano Lawrence Wright, que ganhou o Prêmio Pulitzer deste ano pelo livro O vulto das torres e o inglês Robert Fisk, correspondente do jornal britânico The Independent no Oriente Médio e autor dos livros A Grande Guerra pela Civilização e Pobre Nação.

Os dois convidados leram um trecho de seus livros e em seguida falaram sobre a rotina na vida pessoal e no trabalho. Foi neste ponto que a temperatura começou a subir. O público que lotava a Tenda dos Autores, a principal, e a da Matriz, onde a mesa era apresentada por um telão, quase não piscava. Fascínio e horror nas palavras de ambos. Experiências de quem acompanha as guerras de perto e delas tenta tirar o que há de humano.

Ao ser questionado sobre as diferenças entre uma guerra civil e uma convencional, Fisk mostrou a que veio. “A grande diferença é que na civil há um clima de desorganização que não impõe limites. Você vai aonde quer. Entrevista quem quer e os perigos são maiores. A semelhança entre elas, fora o fato de haver derrotados e vitoriosos, é que as duas são sempre um fracasso humano”, disse ele.

Como jornalistas que são, os dois entrevistaram um ao outro. Um dos melhores momentos da mesa: divertido, mas por vezes tenso. Profissionais brilhantes, mundos diferentes. Lawrence contou que estava decidido a deixar o jornalismo para se dedicar ao cinema quando soube dos atentados naquele 11 de setembro. No mesmo instante, contou ele, ligou para o editor e disse que estava voltando. O resultado nós já conhecemos: uma das mais fascinantes narrativas sobre a teia que culminou com a morte de mais de três mil pessoas nos EUA.

A notícia de que um avião havia acertado uma das Torres Gêmeas chegou aos ouvidos de Fisk durante um vôo, quando ele estava a caminho de uma reportagem sobre conflitos civis. “Mudou tudo”, falou Robert.

A cada colocação, uma surpresa para o público, que não reagiu bem ao ranço norte-americano que Wright deixou passar quando se referiu a questões próprias dos Estados Unidos como sendo de interesse mundial. O excesso de ‘nós’ incomodou um pouco, mas não diminuiu a importância de sua presença.

Durante o espaço aberto a perguntas, mais instantes memoráveis, como se eles saberiam dizer onde está Osama. Wright disse que acredita que os Estados Unidos sabem onde está o terrorista, mas preferem não capturá-lo para não ter que pagar o alto custo que a ação demandaria.

Já Fisk, que teve a oportundiade de entrevistar Osama duas vezes, respondeu que não faz a menor idéia de onde está ele e encerrou a questão: “Osama está na cabeça de cada um de nós. Os americanos falharam. Uma guerra de ideologia e de inteligência não se vence com mísseis. Vocês, norte-americanos, nunca vão pegar Osama”.

Aplausos. Fim da mesa.