segunda-feira, 23 de julho de 2007

Quase lá

Pessoal,

Estamos digitalizando o Globo Comunidade (luxuoso!) que foi exibido no último domingo (22), sobre a Flip, Paraty e Nelson Rodrigues.

Logo, logo, ele vai estar disponível aqui no blog.

Morangos ao calor

Olha só a receita do chef Alcindo Queiroz:

- uma lata de leite condensado;
- duas colheres de sopa de geléia de morango;
- duas xícaras e meia de chá de chocolate meio-amargo em lascas;
- uma colher de sopa de pimenta chili em pó;
- uma xícara de chá rasa de creme de leite;
- morangos frescos;
- suco de 1 limão;
- cobertura de morango para decorar.

Modo de preparo:

Tudo vai ser aquecido em banho-maria. Primeiro o creme de morango: numa panela, aqueça o leite condensado e misture o suco de limão. Acrescente a geléia e misture devagar até uniformizar. Quando começar a ferver, coloque o creme de leite e misture por mais 2 minutos, para adquirir consistência.

Enquanto o creme esfria, derreta o chocolate e acrescente a pimenta: a pimenta deve ser colocada com o chocolate ainda em temperatura ambiente. O chocolate deve estar numa vasilha de vidro e deve ser mexido com uma colher de pau. Utensílios de metal alteram o sabor. Vá misturando os ingredientes e ajudando o chocolate a derreter.

Para servir, escolha um prato bonito, que valorize a sobremesa. Com duas colheres, retire pequenas porções de chocolate, mas de tamanho suficiente para servir de ninho para os morangos. Mergulhe os morangos no creme e depois coloque sobre as porções de chocolate. Por fim, a cobertura de morango para decorar o prato.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Domingo é dia de Flip na Globo Nordeste

O texto anterior foi escrito por Alexandre Cavalcanti, o popular Urêia, editor de imagens que ficou responsável pela edição do Globo Comunidade que vai ao ar no próximo domingo (22) e que vai ser dedicado à Festa Literária Internacional de Paraty.

Aliás, à Flip e a Nelson Rodrigues, bem entendido. O motivo da nossa cobertura, além da Festa em si, foi o fato de a homenagem deste ano ser a um dramaturgo, escritor e jornalista nascido em Pernambuco, de onde partimos no dia 3 de julho em direção ao litoral fluminense.

Pernambuco não aparece tanto na obra de Nelson, que foi morar no Rio ainda criança. Mas, como nos confidenciou o filho mais novo dele, Joffre, "papai nunca negou a macaxeira. Sou carioca e nunca comi aipim, sempre comemos macaxeira em casa".

Essa é uma das entrevistas presentes no Globo Comunidade. O programa vai estar aqui no blog e no pe360graus.com, na próxima segunda (23). Mas não perca: ele vai ao ar no domingo, às 7h.

Um depoimento

É sempre muito prazeroso “lapidar” um trabalho desta natureza. Mesmo estando preso ao pequeno espaço físico de uma ilha de edição, foi possível viajar à belíssima cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, e sentir todo o clima deste evento literário que foi a Flip 2007.

Privilégio maior foi compartilhar e, ao mesmo tempo, conhecer ainda mais sobre a vida e a obra do escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues.

Com esta primorosa produção e gravação jornalística, o telespectador vai ter o prazer de encontrar detalhes do mundo de Nelson, que vão dos seus trabalhos no teatro até relatos de alguns dos seus filhos.

Particularmente, agora tenho a certeza de que adquiri mais alguns bons “vts” para “rodar” em mesa de bar. Afinal, como mesmo disse o próprio Nelson Rodrigues: “O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras passam por ele”.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Quase pronto

Pessoal, o programa especial vai ficar uma beleza!

Alexandre Cavalcanti, nosso editor de imagens, está trabalhando a todo vapor. Tudo indica que o especial vai ao ar no próximo domingo, mas amanhã a gente confirma.

Aguardem e confiem!

domingo, 15 de julho de 2007

Antes de partir, fotos


Tudo bem, tudo bem, a decupagem me espera. Mas é só pra colocar aqui algumas imagens de Paraty e da Flip.
Durante todo o trabalho de cobertura, tiramos várias fotos, tanto do trabalho em si como da cidade (que não conhecíamos). E há também registros do trabalho pós-Flip, ou seja, imagens de apoio que precisaram ser feitas ou nossas noitadas nas redações que improvisamos na pousada.
É só clicar na foto ao lado e conferir.

No meio do caminho

Sete discos com as imagens que gravamos durante a Flip em Paraty: é a este material que estou abraçada agora, fazendo o que chamamos de decupagem.

Decupar é fazer a descrição detalhada do conteúdo de cada disco, indicando as imagens mais bonitas, mais interessantes e também os melhores trechos das entrevistas realizadas.

Isso facilita tanto o trabalho do repórter, na hora de montar seu texto, quanto do editor, que vai cobrir esse texto com as imagens contidas nos discos.

Vamos lá, então.

Só dá pra pedir desculpas...

É isso que devemos às pessoas que acompanharam o blog durante a Flip... Mas é que, uma vez de volta ao Recife, voltamos também às nossas obrigações cotidianas, o que acaba nos distanciando do trabalho que ainda temos que fazer sobre a Festa Literária.

Sim, porque a cobertura da Globo Nordeste na Flip e tudo o que envolveu o homenageado deste ano da Festa - o dramaturgo pernambucano Nelson Rodrigues - vai virar um programa especial.

O Globo Comunidade vai ter uma edição dedicada a Nelson e à Flip e é nisso que estamos trabalhando agora.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Mas que belo marido!

Cinco dias enfurnados num hotel, os hóspedes acabam se tornando conhecidos. Pelo menos, de vista. Um prato cheio para o café da manhã que, em nosso caso, se tornou divertidíssimo graças a um grupo de amigas que parecem ter absorvido, por completo, o espírito de Nelson Rodrigues.

Não precisa querer. Você ouvia o que elas conversavam sem o menor esforço. Mais um pouco, era palestra. Temas: os mais diversos e divertidos. De pratos preferidos, moda, festa literária à vida alheia. E aí nós rimos e não foi pouco.

Em um destes encontros matinais, com aquele vazio no estômago, uma delas saiu com a seguinte pergunta: “Vocês viram o marido dela?”. Seguiram-se os comentários das outras três amigas:

Amiga 1: “Aquele marido?”
Amiga 2: “Mas que belo marido!”
Amiga 3: “Maravilhoso!”

Quer café da manhã mais Nelson Rodrigues que este? Impossível!

Gostinho de quero mais

Eu sei, a Flip terminou, mas ainda guardamos algumas coisinhas para este gostinho bom não ir embora tão rápido. Uma dessas ‘pílulas’ nós soltamos agora. Vamos falar de uma das mesas mais concorridas desta Festa: a 14.

A mesa Narrativas de Conflito reuniu dois dos maiores nomes do jornalismo mundial: o norte-americano Lawrence Wright, que ganhou o Prêmio Pulitzer deste ano pelo livro O vulto das torres e o inglês Robert Fisk, correspondente do jornal britânico The Independent no Oriente Médio e autor dos livros A Grande Guerra pela Civilização e Pobre Nação.

Os dois convidados leram um trecho de seus livros e em seguida falaram sobre a rotina na vida pessoal e no trabalho. Foi neste ponto que a temperatura começou a subir. O público que lotava a Tenda dos Autores, a principal, e a da Matriz, onde a mesa era apresentada por um telão, quase não piscava. Fascínio e horror nas palavras de ambos. Experiências de quem acompanha as guerras de perto e delas tenta tirar o que há de humano.

Ao ser questionado sobre as diferenças entre uma guerra civil e uma convencional, Fisk mostrou a que veio. “A grande diferença é que na civil há um clima de desorganização que não impõe limites. Você vai aonde quer. Entrevista quem quer e os perigos são maiores. A semelhança entre elas, fora o fato de haver derrotados e vitoriosos, é que as duas são sempre um fracasso humano”, disse ele.

Como jornalistas que são, os dois entrevistaram um ao outro. Um dos melhores momentos da mesa: divertido, mas por vezes tenso. Profissionais brilhantes, mundos diferentes. Lawrence contou que estava decidido a deixar o jornalismo para se dedicar ao cinema quando soube dos atentados naquele 11 de setembro. No mesmo instante, contou ele, ligou para o editor e disse que estava voltando. O resultado nós já conhecemos: uma das mais fascinantes narrativas sobre a teia que culminou com a morte de mais de três mil pessoas nos EUA.

A notícia de que um avião havia acertado uma das Torres Gêmeas chegou aos ouvidos de Fisk durante um vôo, quando ele estava a caminho de uma reportagem sobre conflitos civis. “Mudou tudo”, falou Robert.

A cada colocação, uma surpresa para o público, que não reagiu bem ao ranço norte-americano que Wright deixou passar quando se referiu a questões próprias dos Estados Unidos como sendo de interesse mundial. O excesso de ‘nós’ incomodou um pouco, mas não diminuiu a importância de sua presença.

Durante o espaço aberto a perguntas, mais instantes memoráveis, como se eles saberiam dizer onde está Osama. Wright disse que acredita que os Estados Unidos sabem onde está o terrorista, mas preferem não capturá-lo para não ter que pagar o alto custo que a ação demandaria.

Já Fisk, que teve a oportundiade de entrevistar Osama duas vezes, respondeu que não faz a menor idéia de onde está ele e encerrou a questão: “Osama está na cabeça de cada um de nós. Os americanos falharam. Uma guerra de ideologia e de inteligência não se vence com mísseis. Vocês, norte-americanos, nunca vão pegar Osama”.

Aplausos. Fim da mesa.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Um Nelson especial

Esta semana, finda a Flip, vamos trabalhar na edição do Globo Comunidade que será dedicado ao dramaturgo pernambucano e à homenagem recebida por ele na Festa de Paraty.

Aguardem aqui, pouco a pouco, as notícias sobre o programa!

Muito mais frases - com ajuda dos comentários


Contando com a colaboração dos leitores, mais um post dedicado às frases inesquecíveis de Nelson Rodrigues:

* Naquele momento instalou-se em mim uma certeza para sempre: a Opinião Pública é uma doente mental.

* A verdadeira apoteose é a vaia. Os admiradores corrompem.

* O trágico na amizade é o dilacerado abismo da convivência.

* Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante.

* O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca.

* Só há uma tosse admissível: a nossa.

* Toda mulher bonita é um pouco a namorada lésbica de si mesma.

* Nada nos humilha mais do que a coragem alheia.

* Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral.

* Morder é tara? Tara é não morder!

* Todo tímido é candidato a um crime sexual.

* Quem nunca desejou morrer com o ser amado nunca amou, nem sabe o que é amar.

* O que atrapalha o brasileiro é o próprio brasileiro. Que Brasil formidável seria o Brasil se o brasileiro gostasse do brasileiro.

* O amigo é um momento de eternidade.

* O asmático é o único que não trai.

* No Brasil, quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte.

* A morte de um velho amigo é uma catástrofe na memória. Todas nossas relações com o passado ficam alteradas.

* Não reparem que eu misture os tratamentos de tu e você. Não acredito em brasileiro sem erro de concordância.

* Nossa ficção é cega para o cio nacional. Por exemplo: não há, na obra do Guimarães Rosa, uma só curra.

* Os magros só deviam amar vestidos, e nunca no claro.

* Um filho, numa mulher, é uma transformação. Até uma cretina, quando tem um filho, melhora.

* O cardiologista não tem, como o analista, dez anos para curar o doente. Ou melhor: - dez anos para não curar. Não há no enfarte a paciência das neuroses.

* Desconfio muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um milímetro do erro e da obtusidade.

* Toda coerência é, no mínimo, suspeita.

* A maioria das pessoas imagina que o importante, no diálogo, é a palavra. Engano, e repito: - o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entram em comunhão.

* Amar é ser fiel a quem nos trai.

* Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.

* Dinheiro compra tudo. Até amor verdadeiro.

* Deus está nas coincidências.

* Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhores que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém.

* O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: — o da imaturidade.

* Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de "ilustre", de "insigne", de "formidável", qualquer borra-botas.

* O brasileiro não está preparado para ser "o maior do mundo" em coisa nenhuma. Ser "o maior do mundo" em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade.

* Assim como há uma rua Voluntários da Pátria, podia haver uma outra que se chamasse, inversamente, rua Traidores da Pátria.

* Está se deteriorando a bondade brasileira. De quinze em quinze minutos, aumenta o desgaste da nossa delicadeza.

* Em nosso século, o "grande homem" pode ser, ao mesmo tempo, uma boa besta.

* O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda.

* Toda mulher bonita leva em si, como uma lesão da alma, o ressentimento. É uma ressentida contra si mesma.

* Chegou às redações a notícia da minha morte. E os bons colegas trataram de fazer a notícia. Se é verdade o que de mim disseram os necrológios, com a generosa abundância de todos os necrológios, sou de fato um bom sujeito.

* A solidão começou para o verdadeiro católico. Tomem nota: — ainda seremos o maior povo ex-católico do mundo.

* O casamento já é indissolúvel na véspera.

* A educação sexual só devia ser dada por um veterinário.

* Os padres querem casar. Mas quem trai um celibato de 2 mil anos há de trair um casamento em quinze dias.

* As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado.

* Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos.

* Ah, os nossos libertários! Bem os conheço, bem os conheço. Querem a própria liberdade! A dos outros, não. Que se dane a liberdade alheia. Berram contra todos os regimes de força, mas cada qual tem no bolso a sua ditadura.

* Sou um pobre nato e, repito, um pobre vocacional. Ainda hoje o luxo, a ostentação, a jóia, me confundem e me ofendem.

* O povo é um débil mental. Digo isso sem nenhuma crueldade. Foi sempre assim e assim será, eternamente.

* Clarice Lispector pergunta: - Você se sente um homem só?
Nelson Rodrigues responde: - Do ponto de vista amoroso, encontrei Lúcia. A grande, perfeita solidão exige uma companhia ideal.

A Flip em números


Cinco dias de Festa, 76 escritores de 11 países, 20 mil turistas, 21 debates sobre literatura, cinema e teatro, 100 atividades infantis e 10 mil crianças na Flipinha. Os números da Festa Literária Internacional de Paraty não deixam dúvida: o evento já se consolidou no calendário cultural brasileiro.


Segundo a Secretaria de Turismo de Paraty, a cidade recebeu este ano 8 mil visitantes a mais que em 2006. “É muito bom que a gente consiga essa visibilidade. Quem sabe assim, alguns problemas estruturais da cidade passam a merecer mais atenção. A Flip é uma ferramenta para pensarmos em um futuro interessante para esta cidade”, disse Mauro Munhoz, presidente da Associação Casa Azul, uma das entidades que organiza a Flip.


Cassiano Elek Machado deve continuar como diretor de programação da Flip 2008. A pretensão para o ano que vem é trazer autores que contemplem outras linguagens como cinema e teatro, complementando a relação direta com a literatura.

Até 2008!

Três horas de viagem de Paraty ao Rio, trânsito, computador que não ajuda, fazer o check-out do hotel, se perder no caminho do aeroporto. Depois de cinco dias de Flip, essa foi, globalmente, nossa rotina, no último dia no Rio de Janeiro antes de embarcar de volta para o Recife, onde chegamos no fim da noite de ontem.

Isso porque o piloto veio na velocidade mais rápida possível, para nos poupar dos 40 minutos de atraso no Galeão, porque os controladores aéreos disseram que haviam perdido nosso plano de võo. Bonito, hein?

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Na companhia das palavras

Que livro você levaria para uma ilha deserta? A última mesa da Flip 2007 convidou oito autores a responder a seguinte questão: que livro você levaria para uma ilha deserta? J.M. Coetzee, Nadine Gordimer, Rodrigo Fresán, Jim Dodge, Amós Oz, Nuno Ramos, Ahdaf Soueif e Verônica Stigger não se fizeram de rogados e, além de dizer e explicar porque escolheram tal livro, também leram pequenos trechos das obras selecionadas.

“Para começar, escolhi a musa dessa Flip, Nadine Gordimer”, anunciou o diretor de programação da Festa, Cassiano Elek Machado. Ela leu trechos do livro Formigueiros do Cerrado, do nigeriano Chinua Achebe. “Ele é africano, mas escreve de uma forma universal e descreve o que é ser humano”, justificou.

Amós Oz leu trechos da obra que definiu como uma história silenciosa: Simple Story, de S. Agnon. “Gosto da ironia, do calor e da aparente simplicidade do conto. E gosto também pela empatia, pela compaixão e pela atitude subversiva entre religião e classe burguesa”, disse o israelense.

O crime do professor de matemática, de Clarice Lispector, foi lido por Nuno Ramos. “Gosto dessa passagem súbita da questão quase banal à pesadíssima na obra de Clarice. Meu sentimento de mundo se sente em casa quando leio esse texto”, definiu.

Por ter sido o livro que leu mais vezes sem naufragar, Rodrigo Fresán escolheu Matadouro 5, de Kurt Vonnegut. “Achei que seria justo com o escritor invocar o seu fantasma na Flip”, disse o autor argentino, se referindo a morte do escritor norte-americano, ano passado.

“Para fazer minha escolha, pensei na situação real: quando eu chegaria na ilha? Estaria sozinha? E pensei que seria interessante levar um livro que lidasse com algo da essência humana”, disse a egípcia Ahdaf Soueif, que optou por ler poesias de Canções Egípcias, de autor desconhecido.

O conto Diante da lei, de Franz Kafka, foi o eleito de Verônica Stigger. “Leio insistentemente esse conto que depois integrou O Processo e fico sempre na dúvida se entendi ou não”, justificou Verônica.

“Tenho me encontrado em ilhas e achei esses ensinamentos claros e simples. Mas pode ser uma blasfêmia ler essa poesia num festival de literatura”, justificou o norte-americano Jim Dodge, ao ler trechos do clássico chinês Tao Te Ching, de Lao-Tse.

O atual objeto de estudo de J.M. Coetzee também foi sua escolha na mesa da Flip: Molloy, de Samuel Becket. O sul-africano questiona o surpreendente fluxo da narrativa escrita pelo irlandês, jáno prese que tudo acontece nte, diante do leitor. “Como é possível escrever um romance com atores que não vêm de lugar algum, que não tem memória?”, indagou Coetzee.

McOndo ou Macondo?

“Não tenho nada contra García Márquez". O escritor mexicano Ignacio Padilla repetiu essa frase mais uma vez na mesa De Macondo a McOndo, da qual participou no domingo, último dia da Festa Literária Internacional de Paraty.

Desde que assinou, onze anos atrás, o Manifesto do Crack, documento que rompia com a literatura latino-americana e que diluiu o realismo mágico, essa necessidade de viver se explicando chateia o autor. “Não tenho nada contra García Márquez, que inclusive não merece a etiqueta de realismo mágico. O problema é que se acredita que tenho problemas com o realismo mágico”.

Outro que se incomoda com a repetição dessa questão é o argentino Rodrigo Fresán, que teve um conto incluído na antologia McCondo, organizada pelo escritor chileno Alberto Fuguet. O título desse livro ironiza Macondo, lugar mítico onde se desenrola a saga de Cem Anos de Solidão, sucesso que deu o Nobel de Literatura a Márquez.

McCondo, ao contrário, reúne textos que trabalham temas mais próximos da cultura de massas e da vida urbana, questões que distanciam seus autores das questões regionais, tidas como tradicionais da América Latina.

De acordo com Fresán, o realismo mágico não teve muita força em Buenos Aires, onde “Borges é o escritor-fetiche, abriu caminhos e desenvolveu a leitura, sem ditar regras. Não havia movimento na Argentina contra o qual se rebelar. E estou muito agradecido a García Márquez, pois ele fez parte de minhas leituras de formação, quando era garoto, ao lado de outros clássicos como Tolstoi. O que me irrita em relação a García Márquez são as pessoas que nem o conhecem e o chamam de Gabo”.

Os dois autores também abordaram o fato de terem uma vivência fora de seus países de origem - Fresán em Barcelona e Padilla, em Londres - , o que, para eles, naturalmente amplia seu foco de interesse.

“Temos acesso a literatura, televisão, cinema. Somos a primeira geração estritamente televisiva. Estamos condenados à hibridação, à mistura de gêneros. A abolição de limites geográficos é natural para nós”, defende Padilla.

Câmbio

Olá, todos...

A Flip infelizmente acabou ontem, mas o Blogger não foi nosso amigo e ainda não pudemos incluir os últimos posts.

Tenho fé e acho que vão todos entrar hoje, ao longo do dia. Creiam! :)

domingo, 8 de julho de 2007

Congo via Paraty


O professor e articulista Luiz Felipe de Alencastro foi o principal palestrante da mesa O Trato das Trevas, a segunda deste último dia de Flip. O tema da discussão foi o aniversário de 150 anos de Joseph Conrad, autor do livro O Coração das Trevas, que baseou o filme Apocalypse Now (foto), de Francis Ford Coppola.

Entre muitas discussões interessantes, a conversa entre o autor e o público foi parar na exteriorização da violência, identificada no livro como o segundo processo de colonização dos europeus, desta vez rumo à África e Ásia. Traçando um paralelo com o Brasil, Alencastro disse que essa exteriorização não aconteceu no País. "O que vimos aqui foi uma interiorização, que está resultando e saindo pelo ladrão na violência social que vemos hoje", afirmou.

Luiz Felipe de Alencastro também citou uma declaração do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, a respeito da violência desenfreada nos morros da cidade. "Ninguém aguenta mais isso. Nós temos uma bifurcação que eu enxergo bem clara: ou é o caminho da civilização ou é o da selvageria".

O professor completou: "Para o Brasil, todas as soluções são ruins a curto prazo, só há solução a médio e longo prazo, mas nesse meio tempo a gente tem que gerir isso. Quanto é esse meio tempo? Dez anos? Pode ser a vida dos nossos filhos".

O LIVRO
O Coração das Trevas foi publicado de fevereiro a abril de 1899, num jornal inglês, e lançado em livro em 1900, nove anos depois da viagem de Conrad pelo Congo, como militar da Marinha inglesa.

Joseph Conrad viajou pelo rio Congo durante cinco meses e entrou em contato com a barbárie promovida pelos belgas no país africano. O personagem principal, Kurtz, é um funcionário de uma companhia de colonização que, vivendo no meio do mato e sem ter a quem prestar contas, enlouquece e deixa a selvageria imperar.

A idéia de civilização que os europeus usavam para disfarçar a pilhagem promovida nas colônias é o principal foco do livro. "Mas Conrad já vê o esgotamento do uso da civilização como justificativa, coisa que a gente só comprovou na prática muitos anos depois", defende Alencastro.

Arandir, Selminha e cia no palco da Flip

Platéia lotada, público se esparramando pelas escadas, todo mundo queria ver a leitura dramática de Um Beijo no Asfalto, uma das mais emblemáticas peças de Nelson Rodrigues.

A diretora Bia Lessa preparou os autores - sim, porque autores que participaram da Flip 2007 ou que foram convidados pela organização da Festa viveram os tipos criados pelo dramaturgo pernambucano para a sua tragédia carioca em três atos.

Uma foto de Miguel Rio Branco mostrando uma cadela atropelada servia de cenário à Tenda dos Autores. No canto esquerdo do palco, o trio Os ritmistas, formado por três percussionistas, executava uma espécie de trilha sonora ao vivo, fazendo também interferências nas falas dos personagens e recitando frases de Nelson. O músico Jorge Mautner, escalado para a peça, também ajudou com seu famoso violino.

Mautner vive o delegado Cunha que, junto com o jornalista Amado Ribeiro (personificado em toda a sua canalhice por um excelente Silviano Santiago), publicam a bombástica manchete Um Beijo no Asfalto: um homem atropelado por um lotação cai no meio da rua da Carioca e pede um beijo a Arandir, que viu o acidente.

Pelas mãos de Cunha e Ribeiro, a história se transforma: na verdade, atropelado e testemunha têm um caso e o que se viu foi um beijo homossexual. Além disso, não foi um mero atropelamento. Arandir teria empurrado o amante em via pública, era homicídio, como não?

A história se desenrola no trabalho de Arandir (Nelson Motta), que passa a ser alvo de piadinhas dos colegas, e também na casa dele, onde a mulher (Flora Süssekind), a cunhada (Verônica Stigger) e o sogro (Sérgio Sant’Anna) ora crêem, ora não crêem na versão publicada pelo jornal.

Em paralelo a toda confusão, como convém a um bom Nelson Rodrigues, há um interesse entre pai e filha, cunhada e cunhado... Mas a revelação fica para o final - e não sou eu que vou contar para vocês.

O bom de uma feira de literatura é isso: a vontade - e a necessidade - de comprar livros cresce exponencialmente. Pois então: comprem Um Beijo no Asfalto.

Programação do domingo - Completa

Mesa 20 – 10h
DE MACONDO A McCONDO - Ignacio Padilla e Rodrigo Fresán
No quadragésimo aniversário da publicação do mais famoso romance latino-americano, Cem anos de solidão, duas vozes brilhantes da literatura mundial discutem os novos caminhos que se abrem para a ficção do continente. Rodrigo Fresán é o autor de Jardins de Kensington, um romance caleidoscópico que trafega entre a Londres vitoriana e a psicodelia dos anos 1960. O romance Amphytrion, de Ignacio Padilla, é ambientado na Alemanha entreguerras. Esses escritores idiossincráticos, iconoclastas e cosmopolitas mostrarão que já estamos muito longe de Macondo.

Mesa 18 – 11h45
O TRATO NAS TREVAS - Luiz Felipe de Alencastro
Para comemorar os 150 anos do nascimento do grande escritor Joseph Conrad (1857-1924), o historiador Luiz Felipe de Alencastro explora o Coração das trevas, romance publicado em 1900 que conduz seu herói do Tâmisa ao Congo e, assim, ao coração do colonialismo europeu. Ao fazê-lo, Alencastro retorna a um espaço que conhece como poucos: o Oceano Atlântico que serviu de berço ao Brasil escravista.

Mesa 19 – 15h
SOBRE MENINOS E LOBOS - Ishmael Beah e Paulo Lins
Dos lugares mais imprevisíveis pode brotar uma literatura vibrante. Ishmael Beah e Paulo Lins viveram em ambientes tomados de brutalidade e desespero — e resistiram, contando então suas histórias. As memórias de Beah, Muito longe de casa, são um relato fascinante de sua vida como criança-soldado em Serra Leoa e do modo como se libertou. Cidade de Deus, a obra de Paulo Lins que deu origem ao filme esplendidamente adaptado por Fernando Meirelles, romanceia a experiência de crescer numa favela assolada pelo crime. Dois sobreviventes falam do poder redentor das palavras.

Mesa 17 – 17h
SEM DRAMAS - Bosco Brasil e Mário Bortolotto
Nos anos 1990, enquanto críticos choramingavam a falta de bons jovens dramaturgos brasileiros e diretores reclamavam da falta de patrocinadores e palcos para trabalhar, alguns novos talentos arregaçaram mangas e enfrentaram as duas questões. Escreveram suas peças, montaram suas companhias, arrumaram espaços alternativos para encená-las. Deu certo. Mário Bortolotto e Bosco Brasil são a prova. Os dois ganharam os principais prêmios do país, conquistaram públicos cativos e continuam desbravando a trilha aberta por Nelson Rodrigues. No palco da FLIP debaterão para onde leva esse caminho.

Mesa 21 – 19h
LITERATURA DE ESTIMAÇÃO - Vários autores
Escritores da FLIP 2007 lerão trechos de obras que levariam para uma ilha deserta.