segunda-feira, 9 de julho de 2007

McOndo ou Macondo?

“Não tenho nada contra García Márquez". O escritor mexicano Ignacio Padilla repetiu essa frase mais uma vez na mesa De Macondo a McOndo, da qual participou no domingo, último dia da Festa Literária Internacional de Paraty.

Desde que assinou, onze anos atrás, o Manifesto do Crack, documento que rompia com a literatura latino-americana e que diluiu o realismo mágico, essa necessidade de viver se explicando chateia o autor. “Não tenho nada contra García Márquez, que inclusive não merece a etiqueta de realismo mágico. O problema é que se acredita que tenho problemas com o realismo mágico”.

Outro que se incomoda com a repetição dessa questão é o argentino Rodrigo Fresán, que teve um conto incluído na antologia McCondo, organizada pelo escritor chileno Alberto Fuguet. O título desse livro ironiza Macondo, lugar mítico onde se desenrola a saga de Cem Anos de Solidão, sucesso que deu o Nobel de Literatura a Márquez.

McCondo, ao contrário, reúne textos que trabalham temas mais próximos da cultura de massas e da vida urbana, questões que distanciam seus autores das questões regionais, tidas como tradicionais da América Latina.

De acordo com Fresán, o realismo mágico não teve muita força em Buenos Aires, onde “Borges é o escritor-fetiche, abriu caminhos e desenvolveu a leitura, sem ditar regras. Não havia movimento na Argentina contra o qual se rebelar. E estou muito agradecido a García Márquez, pois ele fez parte de minhas leituras de formação, quando era garoto, ao lado de outros clássicos como Tolstoi. O que me irrita em relação a García Márquez são as pessoas que nem o conhecem e o chamam de Gabo”.

Os dois autores também abordaram o fato de terem uma vivência fora de seus países de origem - Fresán em Barcelona e Padilla, em Londres - , o que, para eles, naturalmente amplia seu foco de interesse.

“Temos acesso a literatura, televisão, cinema. Somos a primeira geração estritamente televisiva. Estamos condenados à hibridação, à mistura de gêneros. A abolição de limites geográficos é natural para nós”, defende Padilla.

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