terça-feira, 10 de julho de 2007

Um Nelson especial

Esta semana, finda a Flip, vamos trabalhar na edição do Globo Comunidade que será dedicado ao dramaturgo pernambucano e à homenagem recebida por ele na Festa de Paraty.

Aguardem aqui, pouco a pouco, as notícias sobre o programa!

Muito mais frases - com ajuda dos comentários


Contando com a colaboração dos leitores, mais um post dedicado às frases inesquecíveis de Nelson Rodrigues:

* Naquele momento instalou-se em mim uma certeza para sempre: a Opinião Pública é uma doente mental.

* A verdadeira apoteose é a vaia. Os admiradores corrompem.

* O trágico na amizade é o dilacerado abismo da convivência.

* Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante.

* O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca.

* Só há uma tosse admissível: a nossa.

* Toda mulher bonita é um pouco a namorada lésbica de si mesma.

* Nada nos humilha mais do que a coragem alheia.

* Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral.

* Morder é tara? Tara é não morder!

* Todo tímido é candidato a um crime sexual.

* Quem nunca desejou morrer com o ser amado nunca amou, nem sabe o que é amar.

* O que atrapalha o brasileiro é o próprio brasileiro. Que Brasil formidável seria o Brasil se o brasileiro gostasse do brasileiro.

* O amigo é um momento de eternidade.

* O asmático é o único que não trai.

* No Brasil, quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte.

* A morte de um velho amigo é uma catástrofe na memória. Todas nossas relações com o passado ficam alteradas.

* Não reparem que eu misture os tratamentos de tu e você. Não acredito em brasileiro sem erro de concordância.

* Nossa ficção é cega para o cio nacional. Por exemplo: não há, na obra do Guimarães Rosa, uma só curra.

* Os magros só deviam amar vestidos, e nunca no claro.

* Um filho, numa mulher, é uma transformação. Até uma cretina, quando tem um filho, melhora.

* O cardiologista não tem, como o analista, dez anos para curar o doente. Ou melhor: - dez anos para não curar. Não há no enfarte a paciência das neuroses.

* Desconfio muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um milímetro do erro e da obtusidade.

* Toda coerência é, no mínimo, suspeita.

* A maioria das pessoas imagina que o importante, no diálogo, é a palavra. Engano, e repito: - o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entram em comunhão.

* Amar é ser fiel a quem nos trai.

* Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.

* Dinheiro compra tudo. Até amor verdadeiro.

* Deus está nas coincidências.

* Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhores que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém.

* O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: — o da imaturidade.

* Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de "ilustre", de "insigne", de "formidável", qualquer borra-botas.

* O brasileiro não está preparado para ser "o maior do mundo" em coisa nenhuma. Ser "o maior do mundo" em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade.

* Assim como há uma rua Voluntários da Pátria, podia haver uma outra que se chamasse, inversamente, rua Traidores da Pátria.

* Está se deteriorando a bondade brasileira. De quinze em quinze minutos, aumenta o desgaste da nossa delicadeza.

* Em nosso século, o "grande homem" pode ser, ao mesmo tempo, uma boa besta.

* O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda.

* Toda mulher bonita leva em si, como uma lesão da alma, o ressentimento. É uma ressentida contra si mesma.

* Chegou às redações a notícia da minha morte. E os bons colegas trataram de fazer a notícia. Se é verdade o que de mim disseram os necrológios, com a generosa abundância de todos os necrológios, sou de fato um bom sujeito.

* A solidão começou para o verdadeiro católico. Tomem nota: — ainda seremos o maior povo ex-católico do mundo.

* O casamento já é indissolúvel na véspera.

* A educação sexual só devia ser dada por um veterinário.

* Os padres querem casar. Mas quem trai um celibato de 2 mil anos há de trair um casamento em quinze dias.

* As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado.

* Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos.

* Ah, os nossos libertários! Bem os conheço, bem os conheço. Querem a própria liberdade! A dos outros, não. Que se dane a liberdade alheia. Berram contra todos os regimes de força, mas cada qual tem no bolso a sua ditadura.

* Sou um pobre nato e, repito, um pobre vocacional. Ainda hoje o luxo, a ostentação, a jóia, me confundem e me ofendem.

* O povo é um débil mental. Digo isso sem nenhuma crueldade. Foi sempre assim e assim será, eternamente.

* Clarice Lispector pergunta: - Você se sente um homem só?
Nelson Rodrigues responde: - Do ponto de vista amoroso, encontrei Lúcia. A grande, perfeita solidão exige uma companhia ideal.

A Flip em números


Cinco dias de Festa, 76 escritores de 11 países, 20 mil turistas, 21 debates sobre literatura, cinema e teatro, 100 atividades infantis e 10 mil crianças na Flipinha. Os números da Festa Literária Internacional de Paraty não deixam dúvida: o evento já se consolidou no calendário cultural brasileiro.


Segundo a Secretaria de Turismo de Paraty, a cidade recebeu este ano 8 mil visitantes a mais que em 2006. “É muito bom que a gente consiga essa visibilidade. Quem sabe assim, alguns problemas estruturais da cidade passam a merecer mais atenção. A Flip é uma ferramenta para pensarmos em um futuro interessante para esta cidade”, disse Mauro Munhoz, presidente da Associação Casa Azul, uma das entidades que organiza a Flip.


Cassiano Elek Machado deve continuar como diretor de programação da Flip 2008. A pretensão para o ano que vem é trazer autores que contemplem outras linguagens como cinema e teatro, complementando a relação direta com a literatura.

Até 2008!

Três horas de viagem de Paraty ao Rio, trânsito, computador que não ajuda, fazer o check-out do hotel, se perder no caminho do aeroporto. Depois de cinco dias de Flip, essa foi, globalmente, nossa rotina, no último dia no Rio de Janeiro antes de embarcar de volta para o Recife, onde chegamos no fim da noite de ontem.

Isso porque o piloto veio na velocidade mais rápida possível, para nos poupar dos 40 minutos de atraso no Galeão, porque os controladores aéreos disseram que haviam perdido nosso plano de võo. Bonito, hein?