quarta-feira, 4 de julho de 2007

Graco Rabelo, o vencedor da regata da Flip


Aguardem, aguardem: mais fotos hoje à noite e durante a madrugada!

Iphan na Flip

Pense em algo difícil. Pensou? É andar em Paraty. O problema não é a sinalização, que é ótima, mas a quantidade de coisas interessantes para se fazer. Tudo é motivo para uma parada e haja concentração para manter o foco no que se pretende. Por isto, uma sugestão é traçar um roteiro e aproveitar o máximo.

Por exemplo, vale dar uma passada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan. Ele fica na Praça Monsenhor Hélio Pires, a principal da cidade, e é lá que começam, amanhã, quinta-feira, a exposição de livros e a mostra Patrimônio e Leitura durante a Festa Literária Internacional de Paraty – Flip2007.

É bom saber o seguinte: entre os dias 5 e 8 de julho, de 10h às 20h. Para saber mais, http://aber.locaweb.com.br/v2/noticia.php?IdNoticia=1409.

O belo exemplo do Instituto Náutico Paraty

O Instituto Náutico Paraty, que promoveu a regata de abertura da Feira, existe há sete anos e dá aula para crianças que vivem na periferia da cidade - a única exigência para ser aluno é comprovar a freqüência na escola regular.

A turma que competiu hoje está estudando há um ano e meio. "A gente ensina como montar e desmontar os barcos, fazer manutenção, limpar tudo, mas tem outras coisas, como trabalho em grupo, respeito aos outros, obediência à hierarquia. E também tem um aprendizado que muitas vezes eles não conseguem ter na escola. Eles precisam saber física, geografia, matemática para poder velejar", explica Júnior Rameck, presidente do Instituto.

Para ele, essa oportunidade pode ser um caminho para o futuro desses meninos, que têm idade entre 6 e 16 anos. "A gente tá formando mão-de-obra, fazemos um banco de dados de tripulantes que poderão trabalhar em outras regatas. Aqui em Paraty, por exemplo, há cinco anos só havia 300 barcos, hoje são quase 2 mil. Tudo isso é mercado de trabalho pra esses meninos", diz Rameck.

As aulas no Instituto acontecem sempre aos sábados, das 11h às 17h, graças ao trabalho de cinco voluntários. Uma delas é a argentina Susana Arregin, que está em Paraty há quatro anos.
"Sempre trabalhei com náutica, mas não queria mais a vida na cidade grande. Então eu e meu marido decidimos vir para Paraty, sabendo que poderíamos continuar trabalhando com a mesma coisa aqui", diz ela.

Quando Susana começou a trabalhar no Instituto, havia cinco alunos - hoje são 52 e há lista de espera para os próximos cursos. "Esses meninos são filhos de caiçaras, e se um dia o peixe que os pais deles pescam acabar? Eles não tinham outras opções, mas agora estamos dando uma oportunidade", explica a voluntária.

Além do trabalho voluntário, o que mantém o Instituto são doações: barcos, peças e itens de segurança chegam às aulas através da doação ou do empréstimo feito por comerciantes e administradores das marinas.

As aulas começam no rio Perequê-Açu, para que os meninos tenham os primeiros contatos com os barcos. Depois de aproximadamente um mês, eles são levados pela primeira vez para velejar no mar. "Também fazemos acampamentos de surpresa. A gente pega os meninos, os pais deles e sai com todo mundo, velejando pela baía de Paraty. Aí a gente pára numa praia, todo mundo desce e ajuda a montar o acampamento, a preparar a comida, organiza tudo. É importante também para o aprendizado deles", defende Júnior Rameck.

"Nosso objetivo é ensiná-los a velejar e cultivar o esporte náutico, para que, daqui a alguns anos, eles nos sucedam. Mas, além da navegação, também ensinamos respeito e solidariedade. São coisas que eles vão poder levar para o resto da vida", assegura o presidente do Instituto Náutico Paraty.

Hoje é dia de festa

A programação da Flip propriamente dita só começa amanhã, com as primeiras mesas com os autores. Mas a cidade já está completamente mobilizada para o evento: muitas pessoas nas ruas, turmas escolares caminhando com seus professores entre as exposições, gente comprando ingresso, outros só passendo e curtindo o clima da Flip.

A abertura da Festa acontece às 21h, com a crítica teatral Barbara Heliodora prestando uma homenagem a Nelson Rodrigues. A Orquestra Imperial faz o show da noite, na Tenda da Matriz. Para quem não conseguiu ingressos, uma dica: já soubemos por aqui que dá pra curtir o som do lado de fora, e até melhor, com espaço pra dançar.

Confira a programação das mesas da Tenda dos Autores para esta quinta, dia 5 (os textos são da assessoria de imprensa da Flip):

Mesa 1 – 10h
FUTURO DO PRESENTE - Cecilia Giannetti, Fabrício Corsaletti e Veronica Stigger

Uma romancista do Rio de Janeiro, um poeta do interior de São Paulo, uma contista de Porto Alegre. Seja com a prosa seca e urbana de uma, com a poesia lírica com algum cheiro de terra do outro ou com narrativas alucinadas com aroma de lua da terceira, estes três jovens escritores realimentam a ficção brasileira ao apresentarem em uma bibliografia ainda curta o extremo vigor literário. Nesta conversa, eles apresentam o que ainda virá, e o que já está sendo, na literatura nacional.

Mesa 2 – 11h45
UIVOS - Chacal e Lobão

Os dois têm mais em comum do que os apelidos de feras caninas. Em campos diferentes, estes dois cariocas inconformados vêm fazendo há um par de décadas o mesmo processo. Extrair poesia do cotidiano mais banal e transformá-la em coisa falada. Lobão canta seus poemas, Chacal fala suas criaturas em eventos como o Centro de Experimentação Poética CEP 20000, encontro de poetas que criou há dezessete anos no Rio. Ambos letristas experientes, falarão na FLIP sobre a música que há na poesia e a poesia que vira música.

Mesa 3 – 15h
NELSON RODRIGUES - ATO 2 - Augusto Boal e Eduardo Tolentino
Durante a ditadura, quando Augusto Boal foi preso acusado de subversão, Nelson Rodrigues publicou um artigo defendendo fervorosamente o dramaturgo. “Sua vida é uma apaixonada meditação sobre o mistério teatral”, concluía. Nesta mesa, Boal, hoje o nome mais conhecido do teatro brasileiro fora do país, divide um pouco desses mistérios com Eduardo Tolentino, fundador do grupo Tapa e premiado diretor teatral que já se notabilizou como um apaixonado “meditador” dos mistérios dramatúrgicos de Nelson Rodrigues.

Mesa 4 – 17h
SOBRE MACACOS E PATOS - Jim Dodge e Will Self

Dois talentos literários excêntricos e irreverentes falam do processo criativo na literatura. Até que ponto pode ser ensinado? O autor cult Jim Dodge, diretor do Programa de Escrita Criativa da Humboldt State University, na Califórnia, tem o dever de responder que sim. No entanto, os exercícios de sala de aula dificilmente produziriam outra pata obesa e incapaz de voar, como a protagonista de sua inesquecível novela Fup. Uma oficina literária tampouco ensinaria a criar as aberrações, mutantes e visionários grotescos que povoam a ficção de Will Self. Qual, diabos, é a melhor forma de alimentar a criatividade dos escritores?

Mesa 5 - 19h
TÃO LONGE, TÃO PERTO - Kiran Desai e José Eduardo Agualusa

“De onde você vem?” Nem todos podem responder essa pergunta aparentemente simples com facilidade. Dois escritores brilhantes, autores de obras premiadas, questionam até que ponto a identidade é determinada pelo lugar de origem e discutem de que maneira a vida itinerante moldou a ficção que produzem. O segundo romance de Kiran Desai, O legado da perda, uma reflexão delicada sobre a solidão do deslocamento, ganhou o principal prêmio inglês, o Man Booker Prize de 2006. Os personagens dos livros de Agualusa estão em constante deslocamento, por isso sua escrita tem brasileirismos e gírias angolanas. Seu romance O Vendedor de Passados, de 2004, lhe rendeu em maio deste ano o importante prêmio Independent Foreign Fiction Prize.

Regata com cheiro de literatura

O primeiro evento que acompanhamos da Flip não tem tanta ligação com literatura, mas tem muito com barcos e toda a cultura náutica que a cidade de Paraty desenvolveu ao longo do tempo - uma regata.

Mas não é uma regata comum. Quem veleja são crianças e adolescentes, alunos do Instituto Náutico Paraty, uma espécie de confraria bem-intencionada, que ensina os truques e as teorias para quem quer entrar no mundo das embarcações.

O primeiro barco a completar o percurso foi o de Graco Rabelo, 14 anos, competidor na categoria optmist. "Eu velejo há quatro anos, comecei depois de ver um campeonato com o meu pai lá no Rio Grande do Sul", diz o medalha de ouro.

Mas o prêmio para os vencedores não tem medalha nem troféu - na verdade, os livros que são dados aos ganhadores também podem ser considerados troféus, mas de um outro tipo. "Quem sabe agora eu vou começar a gostar de ler?", pergunta Graco, sorrindo.

Um post em Paraty, finalmente

Ufa! A Flip nem começou direito e a gente já tem milhares de coisas para contar... Chegamos a Paraty por volta de 12h30, mas só agora conseguimos parar e entrar no hotel, tamanha a quantidade de coisas para ver e fazer na cidade, neste primeiro dia de Festa Literária.

Só para situar, Paraty é uma cidade que fica na região dos lagos, a 248 quilômetros do Rio de Janeiro. A viagem de carro é linda, graças a essa mistura entre mar e montanha, que rende uma beleza singular.